Pequeno vulto.
- Que leva oculto
No coração?
Logo outro vulto,
Também oculto,
O vai seguindo
Na escuridão.
E vai pensando:
- Que leva ele,
Que leva oculto
No coração?
Já outro vulto
Ao que seguia
Veio juntar-se
Na escuridão.
- Que leva oculto
(Os dois se dizem),
Que leva oculto
No coração?
Já outro e outro
Qual procissão,
Seguem Tarcísio
Na escuridão...
- Na aurora agora,
Não mais oculto
Que levas (dize!),
Pequeno vulto?
Vulto calado,
Vulto embuçado,
Que não responde,
Mas algo esconde
No coração...
- Leva um tesouro?
Leva um poema?
Uma invenção...
E atrás o seguem,
Atrás prosseguem,
Atrás perseguem
Os outros vultos.
- Será leiteiro,
Será padeiro,
Ágil menino
Tão de manhã?!
Ah! se não falas,
Ah, se te calas,
As próprias pedras
Irão gritar...
Não vês acaso
Os que te seguem
Algo apanhando
No rude chão?
Que levas (dize,
Ah! dize logo!)
Tão em segredo
No coração?
Todo calado,
Todo enbuçado,
Vai o menino
Na solidão.
Parte a primeira,
Parte a segunda,
Terceira pedra
O vem prostrar!
Mesmo caído,
Até ferido,
Tu te obstinas
Em não falar!
Pequeno vulto,
Agora oculto
Por sobre as pedras
(Tantas lamçaram!).
Ninguém queria
Fazer-te mal...
É sempre assim,
Irrefletida,
Cega, incontida,
A multidão.
Por que não disseste
O que levavas,
O que levavas
No coração?
(O que levavas
Leva-te agora
Em plena aurora,
Em pleno dia...)
Tiram as pedras,
Vão procurando,
Vão pesquisando
Na confusão.
- Onde o poema,
Onde o tesouro,
Onde a invenção?
Que ele levava,
Que ele ocultava
No coração?
Mas nada encontraram.
Pois sob as pedras,
Por sobre o pó,
Tão esmagados,
Grãos triturados,
Tarcísio e Cristo
Já são um só!
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