São Nicolau de barbas brancas,
de alto capuz beneditino,
nas costas levava um grande saco
e vai seguindo o seu destino.
É muito tarde. Nas janelas,
há sapatinhos ao sereno:
a cada espera corresponde
o sonho leve de um pequeno.
Súbito, estaca na calçada;
uma janela está vazia
e, pelas frinchas de uma porta,
chegam rumores de alegria.
O Santo pára; está amuado,
acha que o mundo é muito mau
e estas crianças já não querem
esperar por São Nicolau.
Mas, logo fica curioso,
quer descobrir porque naquela
casa não há um sapatinho
no canto escuro da janela.
Vai espiar pelo buraco
da fechadura… – Pobrezinhos,
são os meninos do trapeiro,
nunca tiveram sapatinhos…
E vê, que à falta de bonecas,
eles divertem o casal,
enquanto o avô fuma num canto,
São Nicolau, mas de avental…
Todos estão muito contentes
o Santo ri de olhos molhados
e vai seguindo à luz branquinha
do plenilúnio nos telhados.
Pisa de leve sobre as folhas,
diz a sorrir palavras mansas:
“Essas crianças são os brinquedos
e esses papais são as crianças…”
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