Natal.
Missa do galo assistida de estrelas.
E à meia-noite havia tanta glória
na grande catedral,
que o Menino Jesus que não ama a riqueza
no retábulo de ouro onde estava, no altar
moveu os bracinhos, sério,
e começou no berço a gritar e a chorar!
Logo, para acalmá-lo,
o sacerdote em vão o embalou nos joelhos
e mostrou-lhe no alto as lâmpadas da festa
a tremer e a brilhar…
Acenderam-se em vão mais cristais com espelhos.
O Menino Jesus continuou a chorar.
Embalde o órgão gemeu cantilenas serenas
de adormecer, de acalentar;
Em vão mais docemente entoaram os hossanas.
Mais incenso! Mais rosas!
E o Menino Jesus a chorar, a chorar…
Cem senhoras do escol,
com perfumes e jóias e sorrisos em flor,
o tomaram nas mãos.
Cem mantos de veludo em vão o aconchegaram
em cem colos cristãos.
E o arcebispo até de dalmática real
agitou de mansinho aos olhos do Menino
dez campainhas – dez! – todas em matinada
a tocar:
tilim-tim! Tilim-tim…
Nada, nada;
Jesus… continuou a chorar.
Então uma preta humilde, uma preta descalça,
de pixaim branquinho, a tomá-lo se ergueu;
afagou-o a tremer com ingénua doçura,
maternalmente o repreendeu:
“Vem drumi, vem drumi, Sinhô moço!”
E, oh milagre!
O Menino Jesus sorriu e adormeceu.
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