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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ORAÇÃO DA NOITE - Auta de Sousa

Ajoelhada, ó meu Deus, e as duas mãos unidas,
Olhos fitos na Cruz, imploro a tua graça...
Esconde-me, Jesus! da treva que esvoaça
Na tristeza e no horror das noites mal dormidas,

Maria! Virgem mãe das almas compungidas,
Sorriso no prazer, conforto na desgraça...
Recolhe essa oração que nos meus lábios passa
Em palavras de fé no teu amor ungidas.

Anjo de minha guarda, ó doce companheiro!
Tu que levas do berço ao porto derradeiro
O lúrido batel de meu sonhar sem fim,

Dá-me o sono que traz o bálsamo ao tormento,
Afoga o coração no mar do esquecimento...
Abre as asas, meu anjo, e estende-as sobre mim.

NATAL - Auta de Sousa

É meia noite ... O sino alvissareiro,
Lá da igrejinha branca pendurado,
Como n’um sonho místico e fagueiro,
Vem relembrar o tempo do passado.

Ó velho sino, ó bronze abençoado,
Na alegria e na mágoa companheiro!
Tu me recordas o sorrir primeiro
De menino Jesus imaculado.

E enquanto escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme dolorosamente
Da desventura, aos gélidos açoites ...

Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras uma noite santa,
Noite bendita mais que as outras noites
!

JESUS! MARIA! - Auta de Sousa

Meu coração guarda escritos
E canta em doce harmonia
Estes dois nomes benditos:
Jesus! Maria!

Se o dia nasce e, na altura,
O sol formoso irradia,
Minh’alma acorda e murmura:
Jesus! Maria!

Se a noite desce e, tão brando,
O Sonho azul me inebria,
Sempre adormeço cantando:
Jesus! Maria!

Da ilusão se o sopro lindo
Todo o meu ser extasia,
Alegre digo, sorrindo:
Jesus! Maria!

Meu coração, quando pulsa,
Louco de dor e agonia,
Ainda grito convulsa:
Jesus! Maria!

Jesus! Maria! Invocando
Em vós o sol que alumia,
Quero morrer soluçando:
Jesus! Maria!

ADORAÇÃO DOS REIS - Auta de Sousa

Jesus sorri. Que ternura,
Que doce favo de luz
Vejo brilhar na candura
De seus dois olhos azuis!

Chegam os Magos. De joelho,
Cheios de unção e de amor,
Beijam o pesinho vermelho
Do pequenino Senhor.

Trazem-lhe mesmo um tesouro
Lembrando glória e tormento:
Caçoulas de incenso e ouro
É a mirra do sofrimento.

Ó Reis do Grande Oriente,
Por que lembrastes, então,
Á mãe do louro inocente
A dor sem fim da Paixão?

Não vedes que a Virgem chora
Olhando a mirra cruel?
É que ela se lembra agora
Da esponja embebida em fel.

Talvez não vísseis o lindo
Bando gentil de pastores
Que o rodearam sorrindo,
Mas só lhe trouxeram flores!

AO SENHOR DO BOMFIM - Auta de Sousa



A Joaquina Felismina da Conceição.

Sofrer ou morrer!
Santa Thereza de Jesus




Amado Senhor,
Meu doce Jesus,
Que morres de amor
Suspenso da Cruz!

Em triste amargura,
Te vendo morrer,
Meu lábio murmura:
Eu quero sofrer!

Sofrer tanto, tanto,
(Senhor, sem cessar!).
Que os olhos, de pranto,
Se arrasem n’um mar.

Tu és meu amigo,
Meu sol, minha luz!
Reparte comigo
O peso da Cruz.

Bem vês quanto choro,
Tem pena de mim!
A Ti só adoro
Senhor do Bomfim.

REGINA MARTYRUM - Auta de Sousa

Lírio do Céu, sagrada criatura,
Mãe das crianças e dos pecadores,
Alma divina como a luz e as flores
Das virgens castas a mais casta e pura;

Do Azul imenso, d’essa imensa altura
Para onde voam nossas grandes dores,
Desce os teus olhos cheios de fulgores
Sobre os meus olhos cheios de amargura!

Na dor sem termo pela negra estrada
Vou caminhando a sós, desatinada,
- Ai! pobre cega sem amparo ou guia! -

Sê tu a mão que me conduza ao porto...
Ó doce mãe da luz e do conforto,
Ilumina o terror d’esta agonia!

REZANDO - Auta de Souza

Róseo menino
Feito de luz,
Lírio divino,
Santo Jesus!

Meu cravo olente,
Cor de marfim,
Pobre inocente,
Branco jasmim!

Entre as palhinhas,
Pequeno amor,
Das criancinhas
Tu és a flor.

Cabelo louro,
Olhos azuis...
És meu tesouro,
Manso Jesus!

Estrela pura,
Santo farol,
Flor de candura,
Raio de sol...

Dá-me a esperança
N’um teu olhar:
Loura criança,
Me ensina a amar.

Sonho formoso
Cheio de luz,
Jesus piedoso,
Meu bom Jesus...

Como eu te adoro,
Pequeno assim!
Jesus, eu choro,
Tem dó de mim.

No doce encanto
De um riso teu,
Jesus tão santo,
Leva-me ao Céu!

Em ti espero,
Mostra-me a luz...
Leva-me, eu quero
Ver-te Jesus!

REGINA COELI - Auta de Sousa

Teu nome santo, ó Maria,
Tem a doçura inocente
De uma carícia macia,
De uma quimera dolente.

Nele se embala a Esperança
N’uma meiguice dileta,
Como no berço a criança,
Como no verso o poeta.

Do céu teu nome nos desce
Numa harmonia divina,
Como um cicio de prece
Nos lábios de uma menina.

Teu nome é setíneo laço
Prendido em formoso véu,
Qual branca nuvem no espaço,
Qual uma estrela no céu.

Teu nome reflete a imagem
Da melodia serena
Que passa rindo n’aragem
E no voejar da falena.

Uma blandícia suave
Nele cantando divaga,
Como no azul uma ave,
Como no mar uma vaga.

Teu nome, cheiroso lírio,
No níveo cálice encerra
Todo o mistério do Empíreo,
Toda a alegria da Terra.

Como um contraste do encanto,
N’este teu nome diviso
Toda a saudade do pranto
E todo o afago do riso...

Ah! todo o perfume amado,
Toda a fragrância mimosa
Que o colibri namorado
Bebe no seio da rosa;

Toda a pureza do Amor,
Todo o feitiço do olhar,
Orvalho a cair na flor,
Sereno a cair no mar...

Tudo em teu nome palpita,
Tudo embriaga e seduz,
Como a delícia infinita
De um paraíso de luz.

E n’um canto repassado
De lirismo que extasia,
Teu nome vive embalado,
Teu nome santo, ó Maria!

SANCTA VIRGO VIRGINUM: PRECE - Auta de Sousa

Ó Santa estremecida,
Formosa e Imaculada!
Estrela abençoada
Do Céu de minha vida!

Rainha casta e Santa
Das virgens do Senhor,
Eterno resplendor
Que o mundo inteiro encanta.

Tu és minha alegria.
Meu único sorriso,
Ó flor do Paraíso,
Angélica Maria!

Ai! quantas vezes, quantas!
A minha fronte inclina
Orando a ti divina,
Ó Santa entre as mais santas!

Ó virgem tão serena!
Tu és meu sonho doce,
Perfume que evolou-se
De um seio de Açucena!

Amada criatura,
Lança-me estremecido
O teu olhar ungido
De imaculada doçura!

Ó Arco da Aliança,
Celeste e branco lírio,
Salva-me do martírio,
Senhora da bonança!

Envolve no teu véu
A minha triste sorte,
E mostra-me na morte
A porta de teu Céu!

ABENÇOA SENHOR - Auta de Sousa

Abençoa, Senhor esta Casa singela,
Onde a luz do Evangelho esplende, soberana,
E onde encontra guarida a imensa caravana
Dos tristes corações que a prova desmantela.

Neste pouso de paz onde a fé nos irmana,
Em torno do ideal que ao mundo se revela,
A Caridade é sempre atenta sentinela,
Estendendo os seus braços à penúria humana.

Neste recanto amigo, à margem do caminho,
Ninguém procura em vão o conforto e o carinho,
Cansado de bater, chorando, porta em porta...

Porquanto a Tua voz na voz de quem ensina,
A mensagem de amor da Celeste Doutrina,
A renovar no bem a vida nos exorta!...

NA CAPELINHA - Auta de Sousa

Entrou na Igreja sorrindo,
Coberta com um fino véu.
O seu rostinho era lindo
Como o da virgem do Céu.

Foi ajoelhar-se contrita
Ao pé do sagrado altar,
E, com piedade infinita,
Principiou a rezar.

Um doce sorriso veio
Encher-lhe a boca de luz.
Uniu as mãos sobre o seio,
Fitou os olhos na Cruz.

O que dizia... Alguém pode
Adivinhar o que diz
A prece que ao lábio acode
Enquanto a gente é feliz?

Nessa idade, para que
Se reza... (saberei eu?)
A gente reza porque
Também se reza no Céu.

E ela, tão meiga e pura,
Que não conhecia o mal,
E que guardava a ventura
No coração virginal;

Em sua fé de criança
Ingênua e cheia de amor,
Talvez pedisse a esperança
Para os que vivem na dor.

Talvez tivesse gemidos
Para quem vive a chorar,
Para os que vagam perdidos
Nas frias ondas do mar.

E enquanto o lábio querido
Orava piedoso assim,
Do negro olhar comovido
O pranto rolou por fim.

E deslizaram sem calma
As bagas por sua tez,
No desconsolo de um’alma
Que chora a primeira vez.

Su’alma santa onde moram
A Luz, a Inocência e o Bem,
Pedindo pelos que choram
Foi soluçando também.

E compreendendo o segredo
D’aquela doce emoção,
Eu disse baixinho, a medo,
Falando ao meu coração:

Benditos nós que sofremos
Varados por mágoa atroz...
Enquanto assim padecemos
Os anjos pedem por nós.