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terça-feira, 11 de novembro de 2014

PARÁBOLA DO SERVO CRUEL - Antonio Pena


Se teu irmão pecar, repreende-o; 
se se arrepender, perdoa-lhe. 
Se pecar sete vezes no dia contra ti 
e sete vezes no dia vier procurar-te, 
dizendo: “Estou arrependido”,
 perdoar-lhe-ás. (Lucas 17, 3-4)

Por isso, peço ouvi atentos:
dos Céus o Reino é comparado
a um rei que quis com os servos seus
ajustar contas. Começado

o ajuste, eis que lhe trouxeram
quem lhe devia uma quantia
considerável; que à mulher,
aos filhos, bens comprometia,

e a ele próprio. Não podia
pagar-lha, pois, senão com prazos,
o que a esse rei pediu de joelhos,
os olhos mesmo d’água rasos.

Piedade tal ele inspirou,
que o rei a dívida e o mais,
lhe perdoou, deixando-o ir,
deixando-o ir, enfim, em paz.

Contudo, mal tendo saído
da real presença, não é que ele
entre outros seus iguais achou
coincidentemente aquele

que lhe devendo vinha, perto
do que ele ao rei devera embora
fosse em verdade muito pouco
ou mesmo nada, nada! Ora,

não parte ao pobre em direção
e o agarra! Agarra-o e, a estrangulá-lo,
já esquecido de que estava
minutos antes em igual, oh!,

situação, grita-lhe o injusto:
“Paga o que deves!” E o infeliz,
também os olhos rasos d’água,
muito humilhado, ao cruel diz:

“Dá-me mais prazo, e te darei
capital, juros. Compaixão!”
Sem, entretanto, dar-lhe ouvido,
fez que o lançassem na prisão.

Tal presenciando, os demais servos
profundamente tristes vão
contar ao rei o acontecido.
Manda o chamarem este, então,

e, uma vez mais, ao homem tendo
diante de si: — “Como que à tona
o mal que há em nós não é que vem
— a forma como agiu questiona —;

tu me devias, perdoei-te;
justo era, pois, como ninguém,
de outrem assim compadecesses
por te dever igual também,

no entanto ages com rigor”.
E, enraivecido, o rei havia
pouco tão-só perdão, o en-
trega aos algozes. Saberia

algum de vós essas palavras
com que vos brindo interpretar?
Que há de o Pai celestial
assim a vós também julgar!

Nada mais diz e nada encerra
essa parábola, senão
que se condenará quem não
perdoar de todo o coração!

do livro TEMPO DE REENCONTRO, 2013

PROCURA - Antonio Pena



Se a Deus queres achar, não é preciso
que balbucies triste uma oração;
apenas que te afastes do tumulto,
em busca de silêncio e de harmonia.
Vai ao encontro de ti mesmo, vai!
A natureza, do Criador reduto,
está ao teu redor, basta que vejas,
que tenhas olhos para o que é perfeito.
Vai ao encontro de ti mesmo, em paz,
os pés descalços sobre a grama verde,
cabelo ao vento, a face à sombra densa
das árvores frondosas do jardim.
Não é preciso que tu digas nada
(mais vale teu silêncio interior!),
antes escuta os sons da natureza:
o pássaro que pousa no seu ninho;
a frágil folha seca que se deixa
arrastar pelo vento que murmura;
gotículas de chuva que não vem,
fremir de asas de insetos pequeninos,
e abelhas brancas a voarem no ar...
Não é preciso que tu digas nada,
antes escuta a voz da natureza,
que é a voz de Deus a te dizer baixinho,
a te dizer, quase que segredando,
que não habita os templos suntuosos;
trono não tem, nem chega a ser um rei;
vive a teu lado, e tu nem te dás conta;
que te conduz no escuro e te protege;
que a mão te põe no ombro, e não percebes;
que está na flor que se abre e te sorri,
mas que arrancas à haste e atiras fora
. 

(do livro INVÓLUCRO DA NOITE, 2010)