terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O PRESÉPIO - Joaquim Serra

Na palhoça iluminada,
Que fica junto da ermida,
Des que a missa foi cantada
Se congrega a multidão;
Toldo de mirta florida,
Flores de mágico aroma
Ornam o presépio, que toma
Na sala grande extensão.

Quão lindo está! Não lhe falta
Nem o astro milagroso
Que de repente brilhou;
Nem o galo, que o repouso
Deixara por noite alta
E que inspirado cantou!

Tudo o que a lenda memora
E consagra a tradição,
Vê-se ali, grosseiro embora,
Despido de perfeição.

Céu de estrelinhas douradas,
Estrelas de papelão;
Brancas nuvens fabricadas
Da plumagem do algodão!

Anjos soltos pelos ares,
Peixes saindo dos mares,

Feras chegando do além.
Marcha tudo, e vêm na frente
Os Reis Magos do Oriente
Em demanda de Belém.

É esta a lapa; o Menino
Nas palhas está deitado,
Com um sorriso de alegria
Todo doçura e amor!

Contempla o quadro divino
São José ajoelhado,
E a Santíssima Maria
De Jericó meiga flor!

Trajando risonhas cores
Com muitos laços de fitas,
Rapazes, moças bonitas
Formam grupos de pastores.

Que curiosos bailados,
Com maracás e pandeiros!
E o ruído dos cajados
Desses risonhos romeiros!

Essa quadrilha dançante,
Cantando versos festivos,
Aos pés do celeste infante
Vai depor seus donativos:

Frutas, doces, sazonadas,
Ramilhetes de açucenas,
Cera, peles delicadas,
Pombinhos de brancas penas.

São as joias que os pastores
Dão ao Deus onipotente!
E o povo aplaude os cantores
E o espetáculo inocente.

Eis o presepe singelo
Da devoção popular;
Oratório alegre e belo
Sagrado, risonho altar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário