Na terra amanhecida
entre as ondas a rir jubilosas de luz
e as árvores em flor, se ergue a árvore da Vida –
A Cruz.
Entre os tupis a marujada ajoelha.
Uma legião de beija-flores passarinha.
Então “no ilhéu chamado a Coroa Vermelha”
O Frei Henrique de Coimbra se aparelha
e em paramentos de ouro beija o altar…
A alma argentina de uma campainha
se une aos gorjeios da manhã solar...
Junto aos altos pendões do palmar nunca visto
treme um pendão mais alto, o estandarte de Cristo.
Longe um som de clarim morre em glória no ar.
As resinas do mato, onde em onde,
erguem incenso
turibulando pelos troncos bons.
Frei Henrique celebra e é Deus quem lhe responde
na voz do oceano, seu harmônio imenso,
rolando ao longe um turbilhão de sons.
As campânulas trêmulas nos galhos
tilintam à brisa
sua matina aos pingos dos orvalhos;
e a várzea que se irisa
oferenda ao Senhor
nas passifloras roxas os martírios
e na água em sono as ânforas dos lírios…
Há um repousório em cada moita em flor.
São candelabros de ouro os ipês flamejantes!
E ascenderam ao sol corolas delirantes
como se fossem círios
em louvor.
Quando a hóstia se eleva angelical
sobe com ela o sol no firmamento.
As borboletas – que deslumbramento! –
com os tucanos e arás de tom violento
pintam no azul policromias de vitral…
Canta a araponga na floresta longa
como um sino a tanger, dominical...
As naus florem de branco o deserto marinho,
Lembram virgens trazendo, em túnicas de linho,
na alva das velas uma cruz cristã;
e a patena do sol as consagrou com o vinho
aéreo da manhã.
Oh hora ingênua da Fé! Oh primeiro evangelho!
Pero Vaz escreveu que “um índio já bem velho
apontou para a cruz…” Oh gesto anunciador!
Cabral e os que domaram os sete mares
Unem as mãos tremendo de fervor.
E na luz recém-vinda
em bênçãos tutelares,
a terra em flor se alegra em jubileu…
“a terra graciosa” e tão nova e tão linda! –
a terra desde então desposada de Deus.
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