Mostrando postagens com marcador ave-maria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ave-maria. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

AVE-MARIA - Raimundo Correia


Ave-Maria! Enquanto nas campinas
As boa-noites abrem, misteriosas
Bocas exalam no ar frases divinas
Como suave emanação de rosas...

Ó noivas do infortúnio lacrimosas,
Crianças loiras, mórbidas meninas,
Órfãs de lar e beijos, que piedosas,
Ergueis aos céus as magras mãos franzinas!

Quando rezais, às horas do sol posto,
A Ave-Maria, assim, no azul parece
Sorris-se a Virgem-Mãe dos desvalidos;

Nossa Senhora inclina um pouco o rosto
Para escutar melhor tçao meiga prece,
Hino tão doce e grato aos seus ouvidos.

AVE-MARIA - Vicente de Carvalho


Sobre a soleira da porta
Da casa pegada à minha
Vejo sentada a vizinha:
Moça, e bonita... Que importa?

Tem nos braços o filhinho;
Fala-lhe, toda carinho;
Ele ouve; sorri; depois,
Responde-lhe, balbucia...
E, de mãos postas, os dois
Murmuram a Ave-Maria.

Ante meus olhos perpassa
Uma visão: imagino
Maria, cheia de graça,
Jesus, louro e pequenino.

Uma tarde cor-de-rosa...
Uma vila assim modesta,
Assim tristonha como esta...
De pescadores, também...
Sobre a planície arenosa
Por onde o Jordão deriva
Pousa a sombra evocativa,
Das montanhas de Sichém...

À porta de humilde choça,
Um mulher... Quem é ela?
É pobre... é jovem... é bela...
E e Mãe: comovida, a espaços
O seu olhar se adoça,
O seu olhar se ilumina
Para a figura divina
Do filho que tem nos braços.

Mostra-lhe, à noite que estrela
O céu e que a terra ensombra,
Como a tera é toda sombra
Como o céu é todo luz...

E o filho, enlevado nela,
Em êxtase balbucia...
A primeira Ave-Maria
Quem a rezou foi Jesus.

AVE-MARIA! - Fagundes Varela

A noite desce - lentas e tristes
Cobrem as sombras a serrania,
Calam-se as aves, choram os ventos,
Dizem os gênios: - Ave-Maria!

Na torre estreita de pobre templo
Ressoa o sino da freguesia,
Abrem-se as flores, Vesper desponta,
Cantam os anjos: - Ave-Maria!

No tosco alvergue de seus maiores,
Onde só reinam paz e alegria,
Entre os filhinhos o bom colono
Repete as vozes: - Ave-Maria!

E, longe, longe, na velha estrada,
Pára e saudades à pátria envia
Romeiro exausto que o céu contempla,
E fala aos ermos: - Ave-Maria!

Incerto nauta por feios mares,
Onde se estende névoa sombria,
Se encosta ao mastro, descobre a fronte,
Reza baixinho: - Ave-Maria!

Nas soledades, sem pão nem água,
Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,
Triste mendigo, que as praças busca,
Curva-se e clama: - Ave-Maria!

Só nas alcovas, nas salas dúbias,
Nas longas mesas de longa orgia
Não diz o ímpio, não diz o avaro,
Não diz o ingrato: - Ave-Maria!

Ave-Maria! - No céu, na terra!
Luz da aliança! Doce harmonia!
Hora divina! Sublime estância!
Bendita sejas! - Ave-Maria!