terça-feira, 11 de novembro de 2014

PROCURA - Antonio Pena



Se a Deus queres achar, não é preciso
que balbucies triste uma oração;
apenas que te afastes do tumulto,
em busca de silêncio e de harmonia.
Vai ao encontro de ti mesmo, vai!
A natureza, do Criador reduto,
está ao teu redor, basta que vejas,
que tenhas olhos para o que é perfeito.
Vai ao encontro de ti mesmo, em paz,
os pés descalços sobre a grama verde,
cabelo ao vento, a face à sombra densa
das árvores frondosas do jardim.
Não é preciso que tu digas nada
(mais vale teu silêncio interior!),
antes escuta os sons da natureza:
o pássaro que pousa no seu ninho;
a frágil folha seca que se deixa
arrastar pelo vento que murmura;
gotículas de chuva que não vem,
fremir de asas de insetos pequeninos,
e abelhas brancas a voarem no ar...
Não é preciso que tu digas nada,
antes escuta a voz da natureza,
que é a voz de Deus a te dizer baixinho,
a te dizer, quase que segredando,
que não habita os templos suntuosos;
trono não tem, nem chega a ser um rei;
vive a teu lado, e tu nem te dás conta;
que te conduz no escuro e te protege;
que a mão te põe no ombro, e não percebes;
que está na flor que se abre e te sorri,
mas que arrancas à haste e atiras fora
. 

(do livro INVÓLUCRO DA NOITE, 2010)

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